quinta-feira, 26 de abril de 2012

A PERSEGUIÇÃO - CRÍTICA

                                              A Perseguição

Filmes de sobrevivência, desses que colocam homens versus natureza, têm apelo fácil com o público. Ver pessoas no limite, se apegando à esperança de sobreviver mais um dia fez o sucesso de produções como Vivos (1993), No Limite (1997), Náufrago (2000) e o recente 127 Horas (2010). A Perseguição volta ao tema ao mostrar um grupo de homens tentando sobreviver no Alasca depois da queda de um avião. Aqui, não bastando as intempéries do local, têm de lidar com uma matilha de lobos vorazes que parecem mais com os lobisomens de Crepúsculo do que com lobos de verdade.

Qualquer um que costume assistir a documentários sobre a vida selvagem sabe que o comportamento dos lobos no filme não é realista. Este, no entanto, não é o maior problema de A Perseguição. Apesar de exagerar na ferocidade e inteligência dos bichos, o longa não é um filme B sobre animais que resolvem incluir seres humanos em seu cardápio deliberadamente. Tenta ser, na verdade, uma espécie de estudo da vontade de viver, questionando o que nos leva a insistir em permanecer vivos e o que pode levar alguém a não desejar mais viver.

O mote é interessante, mas mal explorado. Primeiro porque, com exceção de Liam Nielsen, que interpreta o protagonista, não é possível sentir empatia por nenhum dos coadjuvantes. Isso faz com que cenas que deveriam comover, como alguém lamentando a saudade da mulher ou filha, soem mais frias que os confins do Alasca. O distanciamento entre público e personagens é tanto que, mesmo quando um deles morre, vítima de um acidente ou dos lobos, simplesmente isso não faz muita diferença para quem está assistindo. Em vez de sofrer com a perda, você é levado a pensamentos estatísticos do tipo “quantos sobrarão ao final”.

A Perseguição deve decepcionar também quem está atrás de ação, já que toda a campanha promocional vende o filme como uma produção na linha de Limite Vertical ou Risco Total. Nada disso. Os fãs de ação em jejum vão continuar passando fome como os personagens, pois o filme se concentra mais na reflexão sobre vida e morte e nas experiências pessoais dos sobreviventes. Até aí, nenhum problema, desde que o elemento humano tivesse sido melhor trabalhado.

O personagem de Liam Neeson, um tipo introspectivo e solitário cujos pensamentos estão voltados para ex-mulher, é muito bem interpretado pelo ator. O problema é que nem mesmo Neeson pode salvar um filme no qual seu personagem cai num rio congelado, fica nele tempo o suficiente para virar picolé e sai de lá como se tivesse tomado banho numa termas. Por sinal, o ator já cumpriu sua cota de bobagens para o resto da carreira depois de ter feito Fúria de Titãs 2. Está na hora de procurar filmes à altura de seu talento.

Para não dizer que não falei das flores, o filme tem fotografia e ambientação perfeitas. Seus cenários realmente passam a sensação de que o local é inviável para a sobrevivência de um humano. O problema é que ficamos muito distantes desses humanos mal construídos pelo filme. E se estes podem ser pouco críveis, os lobos também podem.

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