sábado, 22 de fevereiro de 2014

ROBOCOP

  

                               Pôster nacional de Robocop
Em 1987, Paul Verhoeven impressionou o mundo com Robocop - O Policial Do Futuro, sátira social repleta de violência e efeitos especiais de ponta, cujo principal objetivo era entreter. Vinte e sete anos depois, o brasileiro José Padilha (Tropa De Elite) dirige o remake com tom muito mais sério e político, disfarçando a crítica ao sistema sob ótimas cenas de ação, mas sem trazer de volta a diversão característica da franquia.

Em 2028, os Estados Unidos reforçam sua posição como polícia do mundo com o uso de robôs de combate em países estrangeiros. Claro que o senado norte-americano não acha que seus cidadãos devam se sujeitar ao controle de drones, por isso as máquinas são proibidas. Essa decisão é péssima para a corporação Omnicorp. Com previsão de bilhões em lucros e apoiado por programas de TV de extrema direita, Raymond Sellars (Michael Keaton),CEO da companhia, decide fazer a jogada de marketingperfeita – colocar um policial numa máquina para mudar a opinião pública.
remake aborda melhor as questões morais de se transformar um homem em robô. São longos minutos de reflexão sobre a situação de Alex Murphy (Joel Kinnaman), nos quais ele tenta se ajustar à nova realidade e, diante da triste verdade de sua condição, pede para morrer. Tratado como produto pela corporação e com a data de lançamento se aproximando, Sellars exige que Dr. Dennett Norton(Gary Oldman), responsável pelo projeto, conserte os problemas. Assim, aos poucos, a humanidade do detetive é suprimida transformando-o em um ser autômato.
Diferente do original, a família do policial tem grande destaque na trama, afinal, a Omnicorp e o próprio Robocopprecisam lidar com eles. Conforme é distanciada de MurphyClara, esposa do ciborgue, se volta contra a corporação. O problema é que a atriz Abbie Cornish é limitada para um papel tão emotivo. Ela faz um trabalho apenas razoável e não acrescenta nada às cenas nas quais participa.
Ao menos, o resto do elenco garante boas atuações. Keaton claramente se inspira em Steve Jobs para dar profundidade ao CEO da Omnicorp. Samuel L. Jackson rouba a cena como apresentador de TV sensacionalista, versão gringa de Fortunato, de Tropa De Elite 2Kinneman tem cenas bastante emotivas mesmo sem conseguir mexer nada além do rosto. Entretanto, o personagem de Gary Oldman é o mais interessante do remake, sempre em luta entre a moralidade de seus atos e a pressão da corporação.
Essas questões atualizam muito bem a história para o século XXI. Além disso, de Robocop se espera grandes cenas de ação, com o protagonista atirando em todo e qualquer suspeito. E isso Padilha faz muito bem. Óbvio que a violência nos anos 80 permitia exageros que hoje são limitados pelo politicamente correto, então o policial do futuro usa arma de choque e não balas de verdade na maioria dos casos. Mesmo assim, o espírito de chutar a porta e entrar atirando foi mantido, embora o tom de sátira tenha sido substituído pelo drama.
O que incomoda é o aspecto clean de Detroit. A decadência desapareceu e, embora a cidade esteja falida na vida real, no longa parece um ótimo lugar para se viver. O discurso de que o local é o mais violento da América não faz sentido, afinal tudo que vemos são alguns crimes organizados pela mesma quadrilha e um pouco de corrupção policial. Com isso, a questão da necessidade de drones patrulhando as ruas das cidades norte-americanas perde impacto e a premissa básica se mostra rasa.
Mesmo com esse problema de ambientação, a produção mantém o interesse do público com o bom uso da tecnologia. Exemplo disso é a forma como o ciborgue utiliza feeds de câmeras espalhadas pelas ruas para encontrar suspeitos - sistema inspirado pela série de TV Person of Interest. Isso funciona muito bem na tela e explica como o policial encontra rapidamente seus alvos – no original, ele simplesmente aparecia no lugar do crime sem mais explicações.
Robocop é muito melhor e mais inteligente do que se esperava: Padilha consegue imprimir sua marca na direção e cria narrativa empolgante sem deixar de lado seu discurso moral e político. Porém, isso não muda o fato de que não era necessário refazer o clássico de Verhoeven. O brasileiro faz boa estreia em Hollywood e deve agradar aos espectadores, mas seu longa não impressiona o bastante para marcar uma geração.

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