domingo, 8 de setembro de 2013

JOBS

  

                                 

Era de se esperar que uma cinebiografia do lendário fundador da Apple revelasse o homem por trás do mito, que humanizasse o cultuado CEO que levou o mundo a cobiçar os gadgets eletrônicos de sua empresa como obras de arte. Jobs, a despeito de carregar o nome de seu biografado no título, não desmistifica, apenas reforça o culto ao executivo brilhante e genioso.
O filme começa pressuroso, espécie de peça publicitária da Apple embalada por uma trilha sonora incidental edificante e onipresente. O espectador é apresentado ao Steve Jobs dos tempos de faculdade, rebelde, apaixonado por conceitos estéticos e sonhando em fazer diferente, burlar o status quo. Tudo muito rápido e sem nenhum aprofundamento.
Se vivo, Jobs, perfeccionista e dado estender seus projetos até que estivessem impecáveis, provavelmente reprovaria o longa. Num átimo – e no filme tudo parece conduzido a toque de caixa – passamos pela fundação da Apple na garagem do pai, as dificuldades iniciais, os primeiros êxitos, o crescimento repentino, o embate com Bill Gates, a rejeição dentro da própria empresa e a triunfal volta por cima que transformou a corporação numa das mais valiosas do mundo.
É como se o roteiro fosse baseado na biografia do empresário na Wikpédia. Nada do que se vê na tela vai além deste ou de outro breve texto sobre sua trajetória de sucesso. O filme sequer consegue responder quais as motivações que o levavam adiante, o porquê de ser capaz de abandonar a namorada grávida, ignorar uma filha ou se livrar sem maior dor de consciência de quem acreditava não lhe ser mais útil. Jobs era assim, mas Jobs, o filme, não consegue construir o homem por trás dessa personalidade.
Ashton Kutcher se não brilha no papel, tampouco compromete. Ele incorpora trejeitos de Jobs, como o andar peculiar de corpo inclinado pra frente, e é ajudado no resto pela maquiagem. O problema, no entanto, está no desenvolvimento tacanho e superficial do personagem pelo roteiro, que em vez de jogar luz sobre a lenda, contribui para autenticá-la.
Em última instância, Jobs é como uma imitação de um produto Apple: podia ser bem melhor, desde que contasse com talento e abnegação na execução.

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