quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

AS AVENTURAS DE PI

                              As Aventuras de Pi

Ang Lee usou o que há de melhor em tecnologia para criar uma das experiências visuais mais espetaculares do cinema em As Aventuras de Pi. Seu colorido mundo pode variar do terrível ao maravilhoso com facilidade, sem nunca deixar de impressionar pela magnitude. É ainda capaz de nos emocionar com a relação do menino indiano Pi (Suraj Sharma) e o tigre-de-bengala Richard Parker, totalmente criado por computação gráfica.

O longa é baseado no livro de 2001 escrito por Yann Martel, obra única, parte história de sobrevivência, parte fantasia, que procura mostrar o lugar da humanidade em relação a Deus e à natureza. Na trama, Pi, aos 40 anos, é instigado por um jornalista a contar a história que mudou sua vida. A magia começa na bela cidade de Pondicherry, antiga colônia francesa, palco para a apresentação da cultura indiana e do passado dos personagens.

Pi (apelido de Piscine) é filho de dono de zoológico, vegetariano e muito religioso (ele é hindu, católico e muçulmano). Sua infância é difícil e quando começa a se encontrar na vida, seu pai decide levar a família para recomeçar no Canadá, para onde os animais serão vendidos. Só que no meio do Oceano Pacífico, seu navio é afundado por uma tempestade. Ficam vivos apenas Pi, um orangotango, uma zebra, uma hiena e o tigre-de-bengala. Começa então sua luta pela sobrevivência em meio ao terror da violência de seus novos companheiros, que o obrigam a viver fora do barco salva-vidas em uma balsa improvisada. Nesse ponto, já estamos completamente ligados emocionalmente aos personagens.

O cuidado do cineasta com os detalhes é evidente a cada aspecto, especialmente na escolha do elenco. Os quatro atores que interpretam Pi ao longo de sua vida estão ótimos. Destaque para Suraj Sharma, obrigado a fazer as cenas mais exigentes física e emocionalmente. Gerard Depardieu aparece rapidamente como um desagradável cozinheiro francês do condenado navio, porém sua participação dá sentido a elementos que permeiam todo o enredo.

No filme, a beleza e a violência do oceano são alegorias para o lado negro existente em todos nós, dicotomia reforçada pela dura convivência entre Pi, Richard Parker e a luta para manter o tigre alimentado e sob controle. Pequenos dramas para o garoto, como ser obrigado a se render à carne de peixes e provações como tempestades, afetam sua relação com Deus (reforçada insistentemente no longa) e consigo mesmo e mostram como somos frágeis e ao mesmo tempo resistentes diante da natureza.

É impressionante como Lee conseguiu criar um credível mundo em constante mudança. O tigre é realista, capaz de colocar medo nos espectadores com seus olhares ameaçadores e passar sensação de fragilidade quando está encharcado e faminto. A fotografia é fantástica e rivaliza com A Invenção de Hugo Cabret enquanto o 3D é da mesma qualidade de filmes como Pina e Avatar.

As Aventuras de Pi possui muitas camadas e discute a vida de maneira simples, por meio da relação do tigre e do garoto em um barco. Todas as questões levantadas ao longo da trama culminam em um desfecho inesperado que reforça a capacidade do cinema de nos fazer refletir sobre nossas experiências e sentimentos. A ambiciosa produção tem lá suas falhas, como cenas redundantes, principalmente as que nos lembram da devoção do garoto, e verbalização de situações óbvias, mas consegue cumprir o que se propõe: impressionar e passar uma mensagem de esperança, aberta a interpretações.

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