terça-feira, 15 de janeiro de 2013

DJANGO LIVRE

               

                                         Django Livre


Quentin Tarantino é um artesão da contextura cinematográfica, que deixa sua inconfundível digital em tudo o que faz. Seu novo longa é ambientado na América do Norte escravocrata do século 19, quatro anos antes da Guerra da Secessão. É umwestern spaghetti, campo em que o cineasta se aventura pela primeira vezPano de fundo e gênero, no entanto, pouco importam. Django Livre é uma típica obra de Tarantino, com todas as peculiaridades que perfazem o estilo do diretor: diálogos improváveis, humor desconcertante, esguichos de sangue exagerados e trilha sonora de primeira.

Seu personagem principal chama-se Django (Jamie Foxx), homenagem ao icônico pistoleiro do longa italiano de Sergio Corbucci, lançado em 1966 e estrelado por Franco Nero, que faz uma ponta aqui. O Django de Tarantino é negro, um escravo cuja liberdade é comprada pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz). Depois de ajudar este a eliminar um bando de criminosos, Django vai em busca da mulher (Kerry Washington), vendida para o desumano  fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

Com é comum ao cinema de Tarantino, Django Livre é pontuado de momentos-surpresa e sequências criativas que brilham independentes dentro do filme. Num desses momentos inspirados, um fazendeiro racista, interpretado por Don Johnson, reúne uma espécie de embrião da Ku Klux Klan para atacar Django e Schultz. Uma discussão impagável sobre o uso dos sacos brancos na cabeça diverte e, ao mesmo tempo, consegue expor a idiotice irracional do racismo, numa crítica, mesmo que bem humorada, contundente à estupidez daqueles que massacraram outros simplesmente por causa da cor de sua pele.

A habilidade de Tarantino em dar solidez narrativa a seus filmes passa também pela direção dos atores. O desempenho do elenco em Django Livre é elogiável e os personagens muito bem desenvolvidos. Christoph Waltz, que brilhou em Bastardos Inglórios como o sarcástico coronel Hans Landa, arrebata mais uma vez como o tagarela, cínico e divertido Dr. Schultz, um tipo pragmático que despreza a escravidão. É um prazer ver o ator dando vida ao personagem, como também é um deleite para o espectador acompanhar o desenvolvimento de Django, que cresce gradualmente na tela passando de um apático escravo acorrentado para um herói confiante.

Tarantino consegue extrair o melhor de Waltz, Foxx e de Leonardo DiCaprio, ótimo como o poderoso e indigesto latifundiário Calvin Candie. Merece também ser destacada a participação de Samuel L. Jackson. Caracterizado como um velho escravo de Candie – num trabalho de maquiagem elogiável - o ator toma conta do filme quando entra em cena. Seu personagem é divertido e o mesmo tempo execrável. Por sinal, foi classificado pelo próprio diretor como o "preto mais desprezível" da história do cinema. E é.

O longa perde um pouco de ritmo e criatividade em seu final, principalmente considerando-se que estamos falando de Tarantino, que costuma apresentar desfechos refinados e iventivos para seus filmes. Não é o que acontece aqui, fato perdoável em roteiristas menos inspirados, mas iconcebível em se tratando do autor de Pulp Fiction - Tempo de Violência. A breve derrapada, todavia, não compromete mais este competente trabalho do cineasta, que fez em Django Livre uma sangrenta homenagem aos spaghetti westerns e também uma divertida, porém contudente, crônica de um capítulo lamentável da história americana.

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