sábado, 26 de janeiro de 2013

LINCOLN



                                    Lincoln
Grande campeão de indicações ao Oscar 2013 - foram 12, entre elas Melhor Filme, Melhor Diretor, Ator (Daniel Day Lewis) , Atriz Coadjuvante (Sally Field) e Ator Coadjuvante (Tommy Lee Jones), Lincoln deve sair da cerimônia com pouca coisa. Garantido mesmo só o Oscar de Day Lewis, que não interpreta, incorpora o famoso presidente americano assassinado em abril de 1865. Duvido muito que ganhe o prêmio máximo, o que, se ocorrer, será uma injustiça atroz dada a qualidade superior de alguns concorrentes. O Oscar de Direção Spielberg não leva tampouco.

Lincoln não é um grande filme sobre um grande personagem. É um filme comum centrado nos últimos quatro meses de vida do 16º presidente dos Estados Unidos, que entrou para a história, entre outros motivos, por ter sido o articulador da emenda constitucional que acabou com a escravidão naquele país e, de tabela, pois fim à Guerra Civil que matou mais de 750 mil americanos – para se ter uma ideia, o número de baixas somadas em todas as guerras enfrentadas pelo país contra inimigos externos não chega nem perto disso.

A produção faz uma ambientação elogiável tanto do momento político quanto da América do século 19 – a direção de arte é impecável. Com uma vitória esmagadora nas eleições de 1864, Lincoln estava no auge de sua popularidade quando resolveu mexer num vespeiro: propor uma emenda à Constituição que poria fim à escravidão. Spielberg concentra seu longa nos bastidores deste embate político que mudou a história americana e revela o lado idealista do presidente, mas também o pragmatismo que o levou a comprar votos de oposicionistas oferecendo-lhes empregos públicos de prestígio. Em outro momento crucial, o presidente, podendo dar fim imediato à Guerra da Secessão, resolve estendê-la por mais dias para alcançar seus propósitos.

Neste ponto o filme tem o mérito de humanizar a figura de Lincoln, exibindo uma realidade pouco comum em filmes que tratam de grandes nomes da história. E a verdade é que muitos deles sujaram as mãos em nome de seus ideais, adotando a política dos "fins a justificar os meios". Vemos isso nas atitudes do presidente e no jogo de interesses dentro da câmara. Paralelamente, conhecemos um pouco do dia a dia do homem Lincoln, sua relação com a mulher (Sally Field) e com os filhos, o mais velho interpretado por Joseph Gordon-Levitt.

O Spielberg que conhecemos – para o bem ou para o mal - está bem diferente neste filme. Há excessos de personagens e muito blablablá político em salas escuras imersas em fumaça de charutos. Isso a certa altura cansa o espectador. O diretor fugiu do sentimentalismo exacerbado, evitou seus contumazes excessos de close-ups e acertou a mão ao retratar o famoso assassinato do presidente sem reviver a cena tão batida.

Por outro lado, Spielberg tentando não ser Spielberg cobrou seu preço. Lincoln tem conversa em demasia, é conciso demais para abarcar o grande número de personagens e situações e termina por não levar à tela a grandiosidade do momento retratado. As boas interpretações – entre as quais merecem ser destacadas também as de Tommy Lee Jones e de James Spader – mantêm a força do filme que perdeu a chance de ser uma obra grandiosa porque seu diretor resolveu deixar de ser ele mesmo.

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