sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

OS MISERÁVEIS



                                      Os Miseráveis
“Como poderia saber que havia tanta esperança em minha alma?”, diz Jean Valjean enquanto a pequena Cosette dorme em seus braços embalada pelo andar da carruagem. Filha da prostituta Fantine, a menina une diversas vidas marcadas pela crueldade da lei e do destino, pelo amor incondicional e pelo perdão no longa Os Miseráveis.

O olhar do diretor Tom Hooper (O Discurso do Rei) sob a obra de Victor Hugo - levada ao cinema e à Broadway diversas vezes - consagra Hugh Jackman (X-Men) na pele de Valjean, preso e condenado ao trabalho escravo por roubar um pão. Quando ganha a liberdade, comete outro crime que poderia lhe custar a vida. Mas, diante da inesperada bondade de um padre, passa a construir uma nova história.

Jackman rende-se inteiramente às emoções do personagem. Tratando-se de um musical - gênero complexo para transmitir naturalidade -, pode-se dizer que o filme é um marco em sua carreira. Ele e o restante do elenco utilizaram pontos eletrônicos pelos quais ouviam uma pianista tocar ao vivo a canção a ser interpretada, sem playback. Uma novidade muito bem-vinda para esse estilo cinematográfico, possibilitando maior liberdade de atuação.

Nessa nova história escrita por Valjean, aparece Fantine, uma das funcionárias de sua tecelagem. Se não estivesse ocupado mais uma vez tentando despistar o inspetor Javert (Russell Crowe), que passa a vida a persegui-lo desde sua época como escravo, poderia ter feito o destino da jovem ser diferente intervindo em um momento decisivo.  

Anne Hathaway
 (O Diabo Veste Prada) emociona ao cantar a fragilidade de uma mãe relegada ao inferno. Para enviar dinheiro à filha, Fantine vende seu cabelo, seus dentes, seu corpo... A transformação da atriz impressiona: magra e de cabelos raspados, transmite o desespero de quem se encontra à beira do abismo. Em alguns momento, deixa-se levar por um certo exagero nas expressões, algo que Jackman soube dosar melhor. Mas nada que comprometa a personagem. Aliás, seu retorno surpreendente gera uma das sequências mais emocionantes do filme. 

Valjean promete resgatar e cuidar de sua filha, sob a guarda do casal interpretado por Helena Bonham Carter (Alice no País das Maravilhas) e Sacha Baron Cohen (O Ditador). Os atores dão vida a tipos caricatos e excêntricos, donos de uma adega e de um humor negro inebriante. As cenas passadas dentro do comércio de bebidas renovam o ar e o ritmo do musical. 

Ao ter Cosette ao seu lado, Valjean encontra sentido para viver e superar o ódio recebido do mundo. Porém, quando a pequena torna-se adolescente, essa relação parece ameaçada. Novamente, uma redenção quase divina emerge do personagem, que ajuda Marius (Eddie Redmayne) a ficar ao lado da pupila. Amanda Seyfried (A Garota da Capa Vermelha) encarna a jovem de maneira primorosa, no tom exato do drama. Vale destacar a atuação deIsabelle Allen, que vive Cosette na infância, e de outro ator mirim, o pequeno Gavroche (Daniel Huttlestone).

O filme ganha pontos pela reconstituição de época, fotografia marcante e batalhas épicas entre estudantes e policiais na França do século 19. Porém, cortes muito rápidos tornam algumas sequências vertiginosas demais. E contar tamanha história em pouco mais de duas horas deixa uma sensação apressada no ar. Vários eventos poderiam ganhar maior destaque, mas permanecem na superfície.

Apesar disso, Os Miseráveis entra para a lista de musicais marcantes do cinema. Seja pela escolha do elenco, dos detalhes da produção ou da história em si, o dilema proposto por Victor Hugo entre prezar pelo próprio bem ou lutar pelo bem de todos permanece incrivelmente atual nesta ótima releitura. 

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