terça-feira, 27 de março de 2012

Crítica: RAUL - O INÍCIO, O FIM E O MEIO

                                         Raul - o Início, o Fim e o Meio

Sob a influência do rock dos anos 50 e da música nordestina, principalmente Luiz Gonzaga, despontou no cenário nacional aquele que até hoje é considerado um mito dentro da música brasileira: Raul Seixas. Se propondo a fazer um apanhado da vida pessoal e profissional do cantor, o documentário Raul: O Início, o Fim e o Meio retrata com competência a trajetória do artista desde a época em que era um jovem roqueiro na Bahia até sua morte, em 1989, em São Paulo, vítima do álcool e outros excessos.

Consciencioso, o diretor Walter Carvalho (Cazuza - O Tempo Não Para) não teve a pretensão de desvendar ou explicar o mito – afinal, se for explicado deixa de ser mito, como mesmo disse o cineasta em entrevista a este crítico. Inteligentemente, apostou em fazer um documento audiovisual que ajuda a entender quem foi o homem e o artista Raul Seixas por meio de depoimentos daqueles que conviveram mais intimamente com o maluco beleza da música popular brasileira.

Raul - O Início, O Fim e o Meio é cronológico e parte da infância do cantor na Bahia terminando com sua morte em São Paulo. Na produção de montagem impecável – que levou 18 meses para ser concluída e transformou mais de 200 horas de material bruto em 2 horas de um filme afiado – vemos o Raul menino influenciado por Elvis Presley, o primeiro grupo (Raulzito e seus Panteras), o disco da virada na carreira (o álbum que tem o clássico Sociedade Alternativa), os muitos relacionamentos amorosos do cantor e uma série de depoimentos emocionados e pungentes que leva o espectador a compor um retrato humanizado de Rauzito.

As entrevistas reunidas são todas marcantes, algumas memoráveis. Depoimentos de Paulo Coelho (grande parceiro de composição que abriu a Raul as portas para as drogas e misticismo), Caetano Veloso (reconhecendo a genialidade da música Ouro de Tolo), Nelson Motta, Pedro Bial, Marcelo Nova, Tom Zé e de suas ex-companheiras (Seixas era um conquistador inveterado), entre outros, ajudam a compor o perfil do artista que até hoje possui uma legião de fãs que o idolatra (eles também estão no filme entoando as canções do ídolo).

O documentário de Carvalho não é condescendente. Da mesma forma que retrata a genialidade do cantor, esmiúça suas irresponsabilidades, advindas em sua maioria de seus problemas com as drogas, principalmente o álcool. Igualmente complicada era a relação do músico com as mulheres. As ex-esposas e namoradas deixam claro que era inviável o convívio com o cantor, mas tampouco escondem a paixão que, ainda hoje, nutrem por ele.

Se há algo dispensável no filme é a participação de Caetano Veloso, que era detestado por Raul. Caetano, por sinal, virou uma espécie de Inmetro da música brasileira. Quando se quer chancelar a qualidade a um artista e dar respeitabilidade a seu trabalho, é só convocar o baiano. A obra de Raul dispensa o aval de seu conterrâneo, assim como o próprio maluco beleza provavelmente dispensaria sua participação no filme se vivo fosse.

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