terça-feira, 27 de março de 2012

Jogos Vorazes critica reality shows com versão extrema dos programas de realidade forjada.

                      

A maioria do público hoje em dia tem certeza (ou ao menos desconfia) que reality shows são manipulados para galvanizar os dramas e tensões e com isso garantir audiência em cima de uma falsa realidade. O filme Jogos Vorazes, cuja estreia mundial ocorre nesta sexta-feira (23/3), segue a linha de toda grande ficção especulativa mostrando o que seria uma versão futurista extrema de um desses programas: os jogos vorazes do título são disputados por crianças e adolescente e o prêmio para o vencedor é permanecer vivo. 


Pensar em crianças se digladiando até a morte num programa de TV pode parecer absurdo, mas essa realidade apresentava pelo filme torna-se totalmente plausível para o espectador justamente por causa da associação imediata que faz com os programas de hoje, produções capazes de atrair milhões de espectadores em todo o mundo ávidos por uma realidade cada vez mais forjada.

Não à toa os organizadores dos jogos vistos no filme mudam as regras o tempo todo. O objetivo é manter o programa divertindo as pessoas, entretendo e faturando. Algo semelhante ao que ocorre nos reality shows de nosso tempo.

                        

O objetivo dos realizadores desses programas é promover a quebra da normalidade e despertar a atenção do espectador a todo custo, sacudindo sua percepção sensorial. Essa é a base, por exemplo, de programas com o Big Brother Brasil, que só faz sentido se os participantes saírem do normal. Não à toa eles são estimulados a beber, passar por privações e constrangimentos. É necessário que quebrem normas e acordem os sentidos do público. Mas qual é o limite?

Jogos Vorazes não responde a essa pergunta, mas faz uma crítica mordaz a esse tipo de entretenimento e à sociedade que o consome. O filme é uma mescla de todo tipo de reality show exibido hoje no mundo. Tem elementos de Survivor, American Idol, Big Brother, America’s Next Top Model, entre outros. E como nestas produções, os participante vão sendo eliminados um a um até que reste o vencedor. Mas antes, claro, é preciso garantir o a grandeza do espetáculo e transformá-lo aos olhos do espectador em algo absolutamente necessário.

Os participantes dos jogos do filme, chamados “tributos”, são expostos ao público, viram celebridades e são submetidos aos caprichos de estilistas e fashionistas. Depois de vestidos por ícones da moda e alimentados em banquetes suntuosos, são entrevistados como se estivessem prestes a cantar no American Idol.

                         

Katniss e Peeta, os personagens principais, logo percebem que é preciso ganhar popularidade e conseguir a atenção de patrocinadores – essenciais à sobrevivência durante a prova –, por isso “entram no jogo” fingindo um romance para conquistar a audiência. Qualquer semelhança com o que se vê hoje na TV não é mera coincidência.

Os moradores da Capital do país ficitício retratado no longa, onde são realizados os jogos, estão mais obcecados com estilo do que com conteúdo. Sua obsessão pelas celebridades e a moda os fazem ignorar a crueldade e incongruência do programa. Têm o senso crítico totalmente distorcido por uma ilusão de realidade apresentada pela mídia.

Neste sentido, Jogos Vorazes reflete a obsessão atual de nossa sociedade com a aparência em detrimento do conteúdo. Nada muito diferente dos dias atuais, em que a futilidade de programas reunindo ilustres desconhecidos que nada têm a acrescentar às nossas vidas é reverenciado por milhões.


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