quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A ENTIDADE

                        A Entidade

Dos mesmos produtores da exaustiva franquia Atividade Paranormal, A Entidade, felizmente, não é um mockumentary, os falsos documentários que querem levar o público a acreditar que o retratado realmente ocorreu. A fórmula desgastada e suas imagens propositalmente sujas e sacudidas não se aplicam neste filme, o que soa como alívio.

A Entidade começa bem, buscando o medo do espectador por sua história obscura e pelo poder de sugestão de algumas imagens. A primeira cena é sinistra o suficiente para incomodar e suscitar dúvidas. Simulando uma gravação em Super 8, nela vemos três pessoas sob uma árvore com as mãos atadas às costas, sacos cobrindo a cabeça, e prestes a serem enforcadas. Alguém, que não se pode ver, serra um galho lentamente até que ele tomba e ergue os infelizes do chão. Eles se debatem inutilmente enquanto são asfixiados.

Ainda impressionados com a tétrica cena, somos transportados para os dias atuais. Vemos uma família de mudança para uma nova casa. Ellison (Ethan Hawk, de Dia de Treinamento) é um romancista famoso que escreve sobre crimes reais. Logo descobrimos que a casa para onde está se mudando com a mulher Tracy (Juliet Rylance) e seus dois filhos, Ashley (Clare Foley) e Trevor (Michael Hall D'Addario) foi o cenário do crime que acabamos de presenciar. Ele pretende investigar a história e transformá-la no enredo de seu próximo livro.

Explorando o local da casa onde, invariavelmente, se escondem todos os mistérios num filme de terror, o sótão, Ellison descobre uma caixa com uma câmera de 8mm e vários rolos de filmes que retratam o crime que assistimos no início da fita e outros tão brutais quanto. Ao que parece, foram cometidos pelo mesmo criminoso ao longo de várias décadas. Ao começar suas investigações o romancista se depara com outra coincidência: todos os mortos eram sempre de uma mesma família e, em todas as matanças, uma criança da casa era poupada, mas desaparecia sem nunca ser encontrada.

O diretor Scott Derrickson (de O Exorcismo de Emily Rose) conduz os primeiros minutos do filme com astúcia, apostando no poder de sugestão e na força das imagens e ruídos para provocar medo no espectador. Não demoramos muito a perceber sua incredulidade no vigor da história quando começa a apelar para técnicas batidas para induzir ao susto e sobressalto.

As boas tomadas de câmera e imagens lúgubres, por si só capazes de construir a tensão, são substituídos por sequências batidas, como a típica situação de se ouvir um barulho estranho, ir até o local de onde se originou e, num susto, descobrir que não era nada demais. Pelos menos aqui não há o famigerado gato que salta de algum lugar. Também há a banal tomada na qual o protagonista olha para um lugar, pensa ter visto algo, que logo some, e, ato-contínuo, coça os olhos achando que foi só impressão.

A Entidade segue, então, se desconstruindo como o filme relativamente promissor que sinalizava de início. Notando que estamos diante de mais do mesmo, nossa atenção começa a perceber outros problemas evidentes, como os diálogos mal elaborados, principalmente entre o escritor e um policial que tenta ajudá-lo - um tipo mal construído que não sabemos se é um completo idiota ou alguém que pode acrescentar algo à trama.

Notório também é o nada crível método de investigação do escritor, que consegue desvendar crimes que a polícia não resolveu durante meses de investigação sem sair de seu escritório uma vez sequer. Todas as pistas e informações são conseguidas pelo Google. Como os policiais não pensaram nisso? Nem mesmo quando tem de descobrir o significado de algumas imagens com um especialista de uma universidade, sai de seu recanto. O bate-papo é via Skype.

A Entidade peca pelo medo de arriscar e apostar na força da sugestão. Recicla clichês e, ao final, entra para o rico time de filmes de terror repetitivos e nada criativos.

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